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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Capítulo 2

 estava eu, sentada em uma cadeira almofadada azul parcialmente suja da sala de espera esperando pra ser atendida. A moça que me chamou para sua mesa, Carla, jogou um olhar estranho para minha sacola da padaria, mas depois voltou à simpatia que usava diariamente. 
"Olá" disse Carla."Está procurando por algum lugar específico?"Seu sorriso parecia acolhedor, mas conseguia ver um pouco de cansaço por trás dele, o que o fazia parecer um pouco antipático.
"Olá" retribui. "Não. Estava passando pela agencia e... tem um lugar barato e que seja divertido nessa época do ano pra eu ir?"
"Haha. Tem sim! Está procurando um lugar para se refugiar, não!?" Assenti com a cabeça. "Então acho que tenho o lugar perfeito!" Ela revirou sua gaveta de panfletos por um bom tempo, e percebi alívio em sua feição quando encontrou o que queria. "Olhe" ela disse enquanto levava os panfletos em minha direção. "Suponho que seja o que você está procurando".
Eram dois pedaços de papel em forma retangular. Um era uma folha própria, o outro quando se desdobrava tinha mais informação. O de folha única mostrava em letras garrafais a palavra BARILOCHE e em baixo continha uma foto de uma família subindo no teleférico para esquiar com uma frase embaixo: "O lugar perfeito para se divertir e passar as férias de julho". Sorri e disse "Suponho sim que seja isso que estava procurando".
          Conversa vai, conversa vem e a cada palavra sua voz experiente me convencia. Ela dissera que o preço era ótimo e que a diversão estava garantida. Mas eu precisava pensar. Sabe, não estava nos meus planos viajar para fora do país. Nem nos planos do meu bolso. E minha barriga estava roncando! Percebi pela sua empolgação que a conversa ainda duraria muito tempo, e senti os pães esfriando no meu colo. Olhei pro meu relógio, fiz uma cara de indignação e a interrompi: "Nossa, tenho realmente que ir!"Ela mostrou um ar de decepção, mas me deu os panfletos, agora riscados com dicas de hotéis, lugares e tudo mais e me disse para pensar. Eu não tinha compromisso nenhum, mas sequer dei meu telefone, tamanha era a minha vontade de comer aquele suculento brioche.
                                                     *
Cheguei em casa, joguei as chaves na caixinha de palha que fica logo na entrada e corri para a cozinha. Peguei um prato, coloquei um pedaço do brioche, peguei um copo de leite e fui me sentar no sofá. Liguei a televisão e estava passando um daqueles programas de palco muito chatos que uma mulher acima dos 40 anos que ficou para titia procura um namorado, sem contar que os "escolhidos" dela são sempre feios. Desliguei. Não tive vontade de ficar mudando de canal. Peguei uma revista que estava na escrivaninha ao lado e a folheei. Comi um pedaço de brioche enquanto lia a página de fofocas, onde dizia que a protagonista de 20 anos da novela das 8 que se casou há menos de 6 meses ficou grávida e que o ator de 50 anos que fez muitas novelas tinha falecido após ter um ataque cardíaco. Fechei a revista enquanto mordia mais um pedaço do meu brioche. Olhei ao redor da sala para achar alguma coisa para fazer. Foi aí que eu vi, jogado dentro da minha bolsa os panfletos de Bariloche. Levantei, peguei-os e me sentei novamente. Tomei um gole de lia enquanto lia as propostas. Hotel com café da manha, atividades diurnas na neve e nos locais de esqui e noitadas para os jovens. O avião era de uma boa agência aérea, não fazia escala... comecei a me interessar por tudo isso. Me levantei levando os panfletos e um pedaço de brioche, agora fora do prato para o meu quarto e liguei o computador. Automaticamente meu chat abriu e as janelinhas começaram a piscar. Steff, minha amiga queria saber como estava indo na casa da mamãe (mal sabia ela que nem sequer estava lá). Flavinho queria saber se já havia começado o trabalho. Eu não estava com o mínimo interesse em saber disso, então simplismente os ignorei. Entrei na internet e fui no Google. Meu computador era um porcaria, então nada que uns tapinhas não resolvessem! Escrevi Bariloche e cliquei em "Pesquisa Google". Apareceram várias páginas, tais como textos na Wikipedia, imagens do local, o mapa da cidade até que cliquei em um link que dizia ser o site oficial da cidade. Abri a página e ao ver tantas opções como hotéis, pontos turísticos, restaurantes fiquei sem saber onde clicar. Eram infinitas opções, e me conhecendo resolvi nem pensar em clicar, pois poderia acabar ficando em dúvida e confundindo tudo. Voltei para a página inicial do Google e digitei o nome do hotel sugerido por Carla. Abri na página oficial e cliquei em fotos. Fiquei apaixonada. Tudo parecia aconchegante, e acho que fiquei analisando as fotos por pelo menos 10 minutos. Fui em tabelas de preços e vi que não ia além do que eu poderia pagar. Tinha um bom dinheiro guardado na conta do banco, porque sempre fiz "bicos" para não precisar do dinheiro de mamãe, nem de papai, apesar de ambos não terem muito. Comecei a me empolgar e pesquisar sobre tudo o que Carla havia rabiscado naquele panfleto. Fiquei pelo menos uma hora e meia só me maravilhando com as fotos da neve branquinha que caía e Julho. Eram 7 da noite quando eu já tinha tomado minha decisão: Ia sim para Bariloche!

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